saojosecorreiafas @ 13:56

Seg, 30/06/08

«Julgar os outros reduz a nossa dimensão humana»

 

 – António Manuel Pinho

É uma das mais conceituadas actrizes da sua geração. Na adolescência quis ser advogada – e odiou a primeira peça que viu. Uma professora fê-la dar-se toda ao teatro e nunca mais parou. Entra-nos todos os dias pela casa dentro, através do pequeno ecrã. Podia, mas não tem pose de vedeta. São José é pessoa de uma rara simplicidade, muito para além da “estrela” de teatro, televisão ou cinema.

Nasceste em Setembro de 1974. És uma filha do 25 de Abril.

Sou, a bem dizer, uma filha do 25 de Abril. Nasci uns mesitos depois da nossa revolução dos cravos. Os meus pais moravam na Madeira, a minha família é madeirense.

Eu tinha essa referência de que ainda viveste na Madeira.

Eu vim nascer cá, mas depois ainda vivi na Madeira algum tempo, fiz lá a quarta classe e, depois, é que regressamos ao Continente definitivamente. Mas o meu pai, anteriormente, já tinha vindo para cá trabalhar na Lisnave.

És, de alguma forma, uma lisboeta acidental.

Exactamente.

No plano familiar, naturalmente que sim, mas no plano dos afectos manténs alguma relação com a Madeira?

Curiosamente não. Fiquei 15 anos sem ir à Madeira. E as primeiras férias que consegui pagar com o meu dinheiro, fui lá. Tinha memórias do sítio onde moramos, a Ponta do Sol, e voltei lá com essas memórias fantasiadas – que é sempre o que nos fica da infância. Mas quando lá cheguei as coisas não eram exactamente como no meu imaginário, e fiquei um pouco decepcionada. Ainda assim, gostei de voltar. Depois, estive mais dois anos sem lá regressar. Entretanto, convidada por uma revista, fui passar o Carnaval e tive o prazer (risos) de ver o senhor João Jardim…

Não foi dessa vez que ele foi apanhado em cuecas?

(gargalhada) Não. Dessa vez vi-o a desfilar mascarado de perfume. Trazia um fato prateado, com umas gotas. Mas não apanhei o melhor, porque dois dias depois há uma coisa desinformal, sem rigor nenhum, em que cada um vai como lhe apetece – e isso é o mais interessante, onde as pessoas se divertem mesmo, porque não há regras. Bebem poncha, comem espetadas…

Há uma pessoa que é a grande responsável por seres actriz, uma senhora que se chama Luísa Cruz. Quem é esta senhora?

A Luísa Cruz é uma actriz maravilhosa, uma mulher fantástica. E tive a sorte de ela ter passado pela minha vida.

Numa altura em que pensavas querer ser advogada…

Sim, aí por volta dos 15, dezasseis anos. Era muito tímida, falava muito, expunha muito bem as ideias, mas só num grupo íntimo de amigos, porque se houvesse alguém que não conhecesse retraía-me e não conseguia dizer nada. Por isso, achei por bem fazer teatro como opção, no 9º ano.

E é aí que entra a Luísa Cruz na tua vida.

Felizmente, porque as aulas foram de tal maneira interessantes… E, um dia, ela chamou-me e colocou-me a questão...

Ó rapariga há uma actriz dentro de ti…

Ó rapariga o que é que queres da vida? (risos) Ela disse-me: “pensa duas vezes, porque acho que deves ser actriz” Isto bateu-me…

Antes nunca tinhas pensado nisso?

Nunca tinha pensado nisso. Até porque tinha visto uma única peça de teatro – e tinha odiado. Não vou dizer qual era a companhia, tinha ido através da escola assistir àquela peça e achei um disparate, fui das primeiras a fazer barulho, como aquelas alunas mal comportadas que se voltam para trás, que mandam bocas para o palco… Não devia dizer isto (gargalhada).

Havia para aí umas companhias de teatro que faziam peças infanto-juvenis a pensar em atrasados mentais…

Ainda hoje há companhias que produzem peças a pensar que as pessoas são atrasadas mentais. Voltando atrás, pensei: “se isto é teatro, não tenho nada a ver com isto” Mas nas aulas de teatro tudo aquilo tinha a ver comigo. Não o espectáculo, mas o processo de aprendizagem. Porque, para seres actor, tens que te conhecer muito bem, de começar a pensar em muitas coisas que não tinhas pensado antes. Tens de dominar os teus medos, porque a profissão de actor dá-te uma exposição muito grande – e não podes ter medo do ridículo. Portanto, tens que assumir os teus medos para poderes resolvê-los. E, como dizia, foi a Luísa Cruz que me ensinou a ver essas coisas e determinou a minha opção.

Ainda bem! Santa senhora…

(risos) Seria incapaz de ser advogada, incapaz de ser juíza, incapaz de julgar. Não julgo as pessoas e detesto quando o fazem. Detesto a presunção de querermos avaliar as atitudes dos outros. Há muito a tendência de se avaliar pela imagem, pela profissão, através do carro, pela primeira impressão. E isso reduz a nossa dimensão humana.

São José, e agora? O que é que vem a seguir?

Tenho uma proposta de teatro, uma peça que se chama “A Madame de Sade”, escrita por Yukio Michima, onde vou interpretar a Madame Saint Font – que vai estar no CCB, integrada num ciclo sobre Michima,
em Novembro. E vamos começar a ensaiar em Setembro. O Carlos Pimenta vai encená-la numa lógica completamente fora do clássico, aliás, levada à cena não no grande auditório, mas no parque de estacionamento do CCB. E, finalmente, vou ter a grata felicidade de contracenar coma minha professora Luísa Cruz.

 

 

 

Fotos: Luís Rocha

 

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